Há quase quatro anos pratico regularmente natação em águas abertas. Paixão antiga e que, de ordem prática, configura-se como uma das melhores atividades físicas. Reúne esforço cardiovascular e respiratório na medida, bem equacionado com o fortalecimento de quase todo o corpo. Sem contar os benefícios psicológicos, imunológicos, entre outros.
Esta é a parte visível e já de domínio público. Durante este período, a prática das maratonas e travessias aquáticas tem me trazido aprendizado que vão muito além de concatenar braçadas, deslocamento e respiração. São lições bem aplicáveis ao mundo dos negócios ou à vida.
O mais recompensador é que estas verdadeiras aulas acontecem espontaneamente e, quando vemos, a absorvemos de forma efetiva. A aplicação em terra firme acaba sendo uma consequência mais que natural.
Como o aprendizado apresenta várias e sutis etapas, irei dividir este assunto em dois artigos. Assim, será possível absorver “braçada após braçada”:
#1 Defina seu objetivo e foque no processo
Antes mesmo de entrar na água, devemos definir qual nosso objetivo enquanto nadador. Buscar qualidade de vida? Tentar travessias mais curtas ou de percurso mais longo? Equacionado este ponto, trace as etapas dessa meta e vivencie de forma atenta o processo. Desta forma, o resultado almejado acontece. Esse modelo também se aplica ao mundo dos negócios onde algumas palavras são sagradas e andam sempre unidas simbioticamente: FOCO, META, RESULTADO.
#2 “Braçada após braçada”
É aquela velha e conhecida história, os objetivos e o percurso são alcançados a cada movimento feito. A palavra chave é MOVIMENTO. Se nos mares eles estão nas braçadas, nos empreendimentos encontram-se nas ações que visam o crescimento de cada negócio. Frequência e ritmo são fundamentais. Caso contrário, nos mares as correntes te arrastam; fora deles a concorrência te supera.
#3 Técnica é importante. Ter conhecimento é fundamental
Natação demanda técnica. Saber empregar o melhor movimento, de forma mais constante. Assim o deslocamento é mais facilitado e o gasto energético é menor – quando levamos em conta as travessias aquáticas de maior percurso, isso é ainda mais relevante. Em nossos investimentos temos que SABER e definir como FAZER. Ações não planejadas ou por pura aposta representam perda de tempo e de dinheiro. Aprenda sempre sobre seu negócio e área de atuação. TÉCNICA + CONHECIMENTO representam binômio beirando um mantra em ambas atividades;
#4 Ter respeito ao adversário, mas ter a noção da sua capacidade
As Maratonas Aquáticas são competições com entrega de prêmios e medalhas. Estamos cercados de outros nadadores que fazem, em tese, tudo que você faz. Respeite-os, porque isto faz parte de uma relação desportiva sadia (lembre-se que um dos motivos para nadarmos é qualidade de vida). Entretanto, tenha plena consciência de sua capacidade para alcançar seus objetivos. A concorrência merece respeito, mas não uma reverência passiva e submissa. Aplique sua expertise para as vendas, acordos comerciais, crescimento da empresa, etc. A sua capacidade será sempre o definidor dos resultados
#5 Respeite o mar, pois ele é imprevisível e pode mudar suas condições. Tenha calma sempre diante do inesperado. Isso ajuda na tomada de decisões
Nadar no mar é uma experiência inesquecível. Só quem o faz com constância tem a real dimensão disso. Mas essa força da natureza que cobre a maior parte do nosso planeta é imprevisível. Podemos entrar na água em condições convidativas e, do nada, tudo pode mudar. São marés, ventos, ondas e correntes. Esteja sempre preparado (olha a técnica fazendo diferença novamente). É preciso ter calma para parar e analisar o cenário e buscar soluções concretas. Desespero pode ser fatal. Em terra firme, o cenário também apresenta as intempéries típicas: marés economicamente não favoráveis; quedas na bolsa e investimentos; propostas não aceitas; recessões inesperadas. Pare, respire fundo e utilize novamente sua expertise para a melhor solução.
#6 Resiliência
Esta é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – como choque, estresse, algum tipo de evento traumático, entre outros. O nadador é resiliente, uma condição que aprende desde cedo. Ele deve se adaptar a água fria, por exemplo, ou a um dia de sol escaldante. Esta é uma constante na vida dele. Resiliência também é imperativa para os empreendedores. As condições costumam não ser favoráveis, seja em questões tributárias, de modelos de negócios, no acerto de parcerias… Ajustar-se a elas coopera em muito na subida diária da escadaria dos negócios.
#7 Submergir quando necessário para deixar a onda mais forte passar
Nas vezes em que entramos e saímos do mar em dias mais agitados, é necessário irmos ao fundo, encostar o peito na areia, para deixar o pior passar e prosseguirmos em nossos objetivos nadando (seja iniciando ou finalizando uma travessia). Fora dos mares, em meio ao ambiente turbulento dos negócios, devemos deixar um movimento mais forte passar e garantir tempo de estruturação para novas tentativas e investimentos. Arriscar ser mais forte que o movimento pode ser fatal em ambos ambientes.
#8 Não se trata de força. Trata-se de esforço
Uma das mais simples e complicadas lições quando se nada. Muita das vezes, o pouco conhecimento dos mares, o costume com as águas cloradas das piscinas ou a pura arrogância movida pelo sentimento de “saber tudo” faz com que pensemos que o deslocamento seja um quase conflito com o mar. Muito pelo contrário: isto representa força desnecessária que irá te fazer falta para longos percursos. A questão é do esforço que temos de fazer a fim de completarmos nossas provas, da tenacidade, da resiliência. Isto é, a consistência garante o resultado. Nada muito diferente na nossa atuação empresarial.
#9 Não se deve nadar contra a corrente. É preciso saber ser levado pela força, para depois contornar no momento certo
Quando ficamos presos nas correntes de retorno – popularmente conhecidas como valas – sempre somos movidos pelo impulso natural de sobrevivência de tentar sair fazendo o movimento contrário. Uma luta inglória pela qual muitos banhistas passam e que representa fator conhecido de afogamentos nas praias – basta perguntar a qualquer guarda-vidas. Os nadadores, desde o início de seu aprendizado nos mares, aprendem a entender o processo que envolve este fenômeno natural. A saída é ser conduzido pela força que empurra e tangencia-la assim que diminua sua intensidade. Quantas vezes o mundo empresarial apresenta tendências nos negócios e muitas vezes insistimos e contrariar a “mão invisível do mercado” por pura presunção. Em ambos casos, é afogamento na certa.
#10 Ouça o conselho dos mais experientes
São eles que conhecem as condições de cada mar, das possibilidades e riscos. Os mesmos que te podem acalmar em momento de maior desespero ou te estimular quando preciso. Nas empresas, o poder da experiência nunca deve ser desprezado, mesmo naqueles segmentos mais modernos e de grande poder de inovação.
#11 Saber pegar a esteira e saber se distanciar. Parar na hora certa e seguir no momento adequado. Saber utilizar o fluxo em seu favor
Um triplo conselho que te ajuda a não desprender energia desnecessariamente. Em momentos complicados seja no mar ou nos negócios, é preciso parar e concentrar na decisão mais acertada – seja na direção ou potência da escolha. Assim, o fluxo mais acertado conduz a alcançar o objetivo proposto, mesmo que tenha vindo após uma corrente inesperada ou uma fusão de empresas que te pega despreparado.
#12 Nadar em cardume
Dificilmente você encontrará nadadores de travessias aquáticas nadando solitariamente. Os treinos são feitos nas praias sempre em grupos com parceiros dividindo a mesma cor de toca (geralmente em cores mais berrantes, como o laranja, para facilitar a identificação nos mares). Nadadores pertencem sempre a seus cardumes. Isso é bom e necessário. Seja para servir de estímulo ou proteção – afinal, imprevistos podem acontecer. O trabalho em equipe é muito valorizado no mundo corporativo, visto que os resultados podem ser efetivamente melhores. A equipe serve de base a um grande talento empresarial.
#13 Adversários, por vezes serão impiedosos, saiba como se proteger
Em ambiente competitivo, sempre há os que querem alcançar vitórias a qualquer custo – utilizando recursos que muitas das vezes não primam por um senso mais ético. Em meio ao afã da conquista, as braçadas e empurrões na saída de uma maratona aquática algumas vezes não são apenas para garantir impulso. Situação bem similar aos tradicionais “puxadores de tapete” corporativo, que buscam promoções a qualquer custo. Em ambos os casos é preciso proteger-se. A recomendação é sempre manter uma distância segura para buscar o melhor movimento ou decisão.
#14 O mar cobra
Sim, mesmo sendo tão encantador, o mar exige e premia aqueles que se dedicam, que são disciplinados. Ser pego de surpresa em momentos em que é preciso fazer um esforço maior não é nada consolador. Preparo sempre, porque as travessias aquáticas igualam a todos na água, mas credencia com a vitória quem se esforçou antes. Superação é quase um mantra dentro e fora das águas; assim como estar despreparado ou fazer escolhas majoritariamente intuitivas podem ter um impacto negativo no resultado do negócio. O mercado e a alta gestão são tão implacáveis quanto uma corrente desfavorável
#15 Movimente-se como um todo, sincronize seus movimentos e force naquilo que tem mais talento
A natação é reconhecida como um dos exercícios mais completos que existem. Acionam uma gama muito grande de músculos em nosso corpo, além de promover benefícios nos aparelhos respiratório e circulatório. Por isso, a sincronia dos movimentos projeta o nadador cada vez mais à frente. Há aqueles que possuem uma braçada mais alongada ou uma pernada mais potente. Utilize seu melhor ativo para alcançar a vitória. Assim como aqueles que possuem maior senso de percepção, criatividade, pró-atividade. São os seus diferenciais que o conduz às promoções ou negociações favoráveis para o seu negócio.
#16 A chegada é importante, mas aproveitar o percurso é saber viver. Saber o momento de contemplar a natureza. Sentir-se vivo
Para finalizar, alguns dos conceitos mais prazerosos da prática da natação em águas abertas: é indescritível a sensação de nadar e contemplar a perfeição da natureza. Dividir braçadas com colegas nadadores, com tartarugas, arraias, peixes diversos…. Contemplar a cidade em que mora ou que está visitando por outro ângulo pouco visto. Uma verdadeira higiene mental. Por isso, o ambiente precisa ser respeitado e protegido. Um conjunto de fatores que nos proporcionam uma satisfação, gratidão por estar vivo e capaz de novas maratonas aquáticas… E a relação com o universo corporativo? Bem, assim como nas travessias, tomamos decisões e fazemos escolhas que acreditamos ser as mais viáveis, interessantes e satisfatórias. Por isso, estas sensações, cada um deve encontrar nos respectivos propósitos e escolhas profissionais….
Fonte: https://www.ankar.com.br/artigo/13/o-que-a-natacao-no-mar-ensina-para-a-vida-e-o-mundo-dos-negocios
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